Mega produtor de grãos do Nordeste vê faturamento disparar e planeja abrir banco
Contudo, o forte aumento de área de produção e um clima benéfico para a safra atual (2016/17) não necessariamente representarão uma nova expansão de plantio já na próxima temporada porque há um passivo da quebra de safra 2015/16 a ser resolvido, afirmou à Reuters o proprietário e diretor-presidente do grupo Risa, José Antonio Gorgen.
“O baque da safra passada foi muito grande”, declarou Gorgen, um agricultor que chegou com poucas posses à região de Balsas (MA) há pouco mais de 30 anos e que hoje comanda um negócio que faturou mais de meio bilhão de reais em 2015.
A companhia com atuação no Piauí e Maranhão em diversos segmentos do agronegócio, como produção agrícola, trading, fertilizantes, agroquímicos, logística e revenda de máquinas agrícolas, deverá adotar uma postura mais conservadora na próxima temporada (2017/18), mantendo a área plantada.
Isso porque em um ambiente de preços mais baixos no país, com uma super safra, o pagamento de todos os compromissos que ficaram pendentes após as perdas de 2015/16 exigirá uma boa colheita de soja e muito mais.
A contabilização da receita de 2016 ainda não está fechada, mas o empresário revelou que provavelmente deverá cair para cerca de 396 milhões de reais, ante 522 milhões de reais em 2015, em função do peso da divisão agrícola no faturamento total do grupo.
Por outro lado, em 2017 o faturamento da companhia deverá atingir ou superar 600 milhões de reais, com elevadas produtividades que vêm sendo registradas nos campos e com uma estratégia de comercialização adequada.
Questionado se esses bons resultados favoreceriam um aumento de área, ele afirmou: “Vai só pagar as contas”.
“E só a safra de soja não bota a safra em dia, nem nós nem os outros agricultores, sem contar que os preços derreteram”, disse Gorgen, ressaltando que é necessária também uma boa colheita de milho na segunda safra para as dívidas serem acertadas.
Ele ainda citou um aumento de custos, de forma geral, de cerca de 15 por cento, o que aperta as margens da companhia.
Na temporada atual (2016/17), a Risa plantou 88 mil hectares de grãos –sendo 58 mil hectares com soja e 30 mil hectares com milho–, um crescimento de 35 por cento ante a temporada anterior.
Possivelmente o maior produtor individual de grãos dos Estados do Maranhão e Piauí, Gorgen disse que as produtividades da soja colhida em mais de 50 por cento de sua área têm variado bastante, de 70 sacas por hectare a até 35 sacas.
Mesmo assim, disse ele, é provável que a produção da oleaginosa em 2016/17 dobre em relação a 2015/16, ficando também acima da média de anos recentes.
No caso do milho, acrescentou ele, o grupo Risa está encerrando agora o plantio, e as lavouras mais desenvolvidas estão ótimas.
“Nunca vi milho tão bonito”, comentou, ponderando que ainda são necessárias mais chuvas para a confirmação de uma grande safra.
BANCO NO HORIZONTE
Apesar da cautela momentânea na área agrícola, Gorgen indicou também ter planos mais ousados para verticalizar ainda mais o seu negócio, planejando abrir nada menos que um banco em 2020, o que poderia ajudar nas transações de troca de insumos por grãos.
A verticalização da Risa demonstra o potencial de expansão da agricultura do Cerrado brasileiro, especialmente no Nordeste, onde grandes produtores têm incorporado áreas nos últimos anos.
“Vamos abrir um banco para poder fomentar as trocas com os produtores. Entra em operação experimentalmente em 2019 e passa a funcionar em 2020”, declarou Gorgen, ao receber na sede da sua empresa integrantes da expedição técnica Rally da Safra, acompanhada pela Reuters na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), esta semana.
Diante da surpresa de alguns, ele explicou que o grupo já faz empréstimos por meio das operações de troca de fertilizantes e defensivos por soja e milho, uma prática tradicional das grandes tradings multinacionais do agronegócio.
O empresário de fala enérgica ressaltou que o seu banco deverá “normatizar” as operações de troca que hoje envolvem outras unidades do seu negócio. Tais transações, que em geral demandam análise de crédito do tomador, podem ser executadas com mais eficiência por uma instituição financeira.
Como a Risa é uma sociedade anônima (SA), disse Gorgen, o grupo não deve enfrentar problemas para abrir o banco, um movimento que não demandaria grandes volumes de recursos, apenas um depósito caução no BNDES para viabilizar empréstimos com juros mais baixos, segundo ele.
Gorgen, também conhecido como “Zezão”, chegou a Balsas há mais de 30 anos dirigindo um caminhão azul desde Não-Me-Toque (RS), numa época em que a terra era barata. Inicialmente, ele comprou 300 hectares. Aos 19 anos, seus pais o emanciparam para que ele pudesse administrar outra área da família na cidade nordestina, de mil hectares. Desde então, ele não parou de crescer.
O grupo Risa, que atua numa região do Maranhão e Piauí marcada pela agricultura de grande escala e de alta tecnologia –mas com municípios com baixos indicadores sociais e econômicos, de forma geral–, já fixou as vendas de 190 mil toneladas de soja da safra 2016/17, de um total de 230 mil que espera produzir e receber, numa pista do jeito para negócios que levou Gorgen a ser um dos maiores produtores do Nordeste.
Há pouco mais de um mês, ele vendeu em dois dias um volume imenso de cerca de 180 mil toneladas, aproveitando picos de preço de quase 11 dólares por bushel na bolsa de Chicago, o que sugere que ele acredita em cotações mais baixas com safras abundantes no mundo de agora em diante.
“Já estava desenhando uma grande safra brasileira e argentina…”, disse ele, ressaltando que o segredo do seu negócio é acertar “80 por cento de suas vendas”, graças ao acompanhamento do mercado e a muito trabalho.
Quarta-feira, quando ele recebeu a Reuters e o Rally da Safra em seu escritório, era feriado em Balsas.
Fonte: Reuters